terça-feira, 15 de setembro de 2009

Escritor no Twitter

A lista com os 10 autores que concorrerem ao Prêmio Jabuti deste ano na categoria Romance foi divulgada há uns dias, mas hoje a Folha de S.Paulo divulgou uma matéria bacaninha em que os finalistas comentam as indicações.

Dentre os concorrentes, há dois lidos no curso de Leituras de Ficção: Milton Hatoum e Daniel Galera, com Órfãos do Eldorado e Cordilheira, respectivamente. Embora não sejam os livros que escolhemos para discutir, as respostas sobre a reação ao saberem da indicação, os méritos para se chegar à final, o processo de criação da obra e suas principais características são interessantes.
A que mais me chamou atenção foi a de Galera:


Qual foi a sua reação ao saber que "Cordilheira" estava entre os finalistas do Jabuti?
Daniel -
Mencionar o fato no meu Twitter.

O Twitter - microblog em que o usuário tem 140 caracteres para escrever "o que está fazendo" - é uma febre atualmente. Vários artistas, jornalistas, meios de comunicação e políticos estão usando a ferramenta de publicação online.

Quando fui procurar o Twitter do escritor, encontrei uma reportagem deste mês da Bravo! que justamente sugeria alguns usuários para se seguir. Lá estava o dele. Para lermos o que ele escreve, é preciso pedir autorização. Solicitei a ele que me aceite. Vamos aguardar. Enquanto isso, quem quiser saber as outras sugestões da Bravo!, pode clicar aqui.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Cristovão Tezza conquista mais um prêmio

O romance "O filho eterno" (Record), do catarinense Cristovão Tezza, venceu nesta quinta-feira o 6º. Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon, conquistando R$ 100 mil e mais um troféu, que se juntará aos outros cinco já recebidos pela obra em 2008 - pelos prêmios Bravo!, Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), Jabuti, Portugal Telecom e São Paulo de Literatura.

O romance de Tezza, que receberá o prêmio na abertura da 13ª. Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, dia 26 de outubro, foi considerado o melhor romance de língua portuguesa publicado entre junho de 2007 e maio de 2009. Nas edições anteriores o Zaffari & Boubon premiou o moçambicano Mia Couto ("O outro pé da sereia", 2007); Chico Buarque ("Budapeste", 2005); Plínio Cabral ("O riso da agonia", 2003); Antônio Torres ("Meu querido canibal") e Salim Miguel ("Nur na escuridão") em 2001 e Sinval Medina ("Tratado da altura das estrelas", 1999).

Fonte: O Globo

O sol se põe em São Paulo

Não é o último livro lançado pelo jornalista e escritor Bernardo Carvalho, mas O sol se põe em São Paulo (Companhia das Letras, 2007) merece ser lembrado e tornar-se livro de cabeceira. O conjunto que começa com a construção original e inteligente do enredo, o ritmo do romance – oscilando entre a agitação da grande metrópole paulista e a sensação de timidez oriunda dos japoneses – e as revelações que acontecem no decorrer da trama conseguem transformar a leitura desta obra em um momento em que o leitor quer fugir voluntariamente para a prisão literária de Bernardo Carvalho.

Um publicitário desempregado e recentemente separado, aspirante a escritor, decide arriscar-se a narrar a história de amor de uma misteriosa senhora imigrante japonesa dona de um restaurante freqüentado por ele já há muito tempo no bairro da Liberdade, em São Paulo. Já que não tinha nada a perder: o escritor principiante embarca na tentativa de entender a ligação entre dois extremos do mundo e a proximidade que existe entre eles. A partir desse momento, o publicitário metido a escritor passa a conhecer a história de Setsuko, de sua amiga Michiyo, Jokichi e do ator de teatro japonês, Masukichi

A obra, curiosamente, envolve uma história dentro de outra história: um triângulo amoroso não acabado entre os personagens. Máscaras postas e tiradas, falsas identidades que, aos poucos, são reveladas de um Japão pós-Segunda Guerra; onde famílias ligadas à tradição e ao orgulho escondem os fatos que precisam ser revelados para gerações posteriores e para o mundo. “Foi assim que três destinos disparatados se uniram numa combinação explosiva”, diz certo trecho do livro.

É nesse universo que mergulha o narrador: a busca pela verdadeira identidade dos seus personagens e, por que não, da sua? Aos poucos o leitor percebe a relação que existe entre o Japão e o aspirante a escritor. Sua descendência japonesa, mas a negação da cultura oriental perdida com o tempo que tanto infernizavam sua vida é recuperada após as conversas com a reservada senhora do bairro da Liberdade.


A busca por respostas leva o narrador (e, agora, detetive) ao Japão.

Carvalho costuma viajar para os lugares que escreve; como fez em Mongólia (Companhia das Letras, 2003), quando o autor passou meses viajando e também em O Filho da Mãe (Companhia das Letras, 2009), romance ambientado na Rússia. Em O sol se põe em São Paulo não foi diferente. Resultado disso é a impressão de que o Japão está logo ao lado: grandes multidões se movimentando em todas as direções pelas ruas, prédios, a cidade ligada 24 horas por dia; a mistura entre o moderno e os costumes e gestos japoneses. Se o Japão é chamado de terra do Sol nascente e onde a história de Bernardo Carvalho começa, o título do seu romance já nos guia para onde será o final dela.

14ª edição da Primavera dos Livros

De 10 a 13 de setembro, a Liga Brasileira de Editoras (Libre) realiza a 14ª edição da “Primavera dos Livros”. O evento, que acontecerá no Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1000, Paraíso), disponibilizará cerca de sete mil títulos, com descontos de 10% a 40%.

Editores, autores, intelectuais e outros atores da cadeia produtiva do livro participam do grande encontro, que terá intensa programação cultural para adultos e crianças, mesas-redondas, oficinas e lançamentos. O tema deste ano aborda as diferentes formas de ler o mundo - a literatura em todos os seus gêneros. A entrada é gratuita. A programação está no site: www.libre.org.br.*
* Reproduzido do email enviado pela Câmara Brasileira do Livro.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Cristovão Tezza estreia coluna na Ilustrada

A partir de amanhã, Tezza fará uma coluna quinzenal sobre literatura. Leiam mais aqui.

fonte: Ilustrada, Folha de S. Paulo.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Impressões da 9ª Feira do Livro de Ribeirão

A 9ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto reuniu autores, músicos, atores e chefs gastronômicos entre os dias 18 e 28 de junho. Nos onze dias de evento, mais de 100 autores passaram pela feira e 25 shows foram realizados, além de apresentações teatrais e exibições de filmes. Tudo aconteceu na praça, a céu aberto, de graça.

Na quinta-feira, 25, assisti a duas palestras. A primeira foi de Pedro Bandeira. Talvez a associação do nome à pessoa não seja prontamente feita, mas, se eu disser algumas de suas obras, certamente o leitor saberá quem a quem me refiro. Autor de a “A Droga da Obediência” e “O Fantástico Mistério de Feiurinha”, Bandeira terá, neste ano, toda sua obra republicada e, em dezembro, será lançado o filme de “O Fantástico Mistério de Feiurinha”.

Pedro Bandeira

O mais interessante dessa palestra foi perceber que o autor não só escreve histórias infantis, mas também sabe conversar com o seu público-leitor. As crianças – a maioria da região – dominaram o Theatro Pedro II e, ao abrirem espaço para perguntas, nunca vi tantas crianças erguendo as mãos e interessadas no que um escritor – um ídolo naquele momento – havia para dizer.

Fiquei realmente muito contente em ver as escolas incentivando a leitura e o passeio cultural. As crianças provaram ter lido e estavam interessadas nas obras. Enfim, isso é o que melhor representa e qualifica um evento como este.

Luiz Puntel e Pedro Bandeira

Para ilustrar, publico um vídeo da resposta de Pedro Bandeira à pergunta de uma menininha de não mais de 6 anos. Ela quis saber: “o que é preciso para ser um bom escritor?” Vejam o que ele respondeu.


Logo em seguida, com o fim da palestra, me direcionei à sala ao lado do teatro para assistir à Cristovão Tezza. O autor respondeu primeiramente às perguntas do mediador, o escritor Menalton Braff, e depois o público pôde rapidamente falar.

Se Tezza foi sucinto nas respostas às minhas perguntas por email, no evento, Tezza contou várias estórias, mas pouco falou sobre “O filho eterno” – talvez porque não tenha surgido uma pergunta sobre o livro. Pareceu-me haver certo interesse de todos ali presentes em mostrarem-se conhecedores de outras obras do autor, além do grande sucesso de vendas e de críticas.

O escritor falou sobre ter uma profissão – a de professor, no seu caso – para sobreviver e poder, enfim, viver de literatura. Segundo ele, “o escritor não é uma função como médico, advogado, encanador. (...) São figuras errantes, fora do sistema. Está pronto, quando está pronto, mas, até ele chegar lá, até ele ter essa pegada de dizer “é isso que eu quero fazer”, ele tem que sobreviver de alguma forma”.

Falou também sobre “Trapo”, seu primeiro livro, e comentou a engraçada estória envolvendo Paulo Leminski, autor do posfácio deste volume. Contou sobre um incidente desagradável envolvendo seu livro “Aventuras Provisórias”, em Santa Catarina e revelou de onde vem sua inspiração.

Cristovão Tezza

Surgiu ainda uma citação sobre algo que eu havia lhe perguntado: o fato de estar fora do eixo Rio-São Paulo e – talvez para não sair com a sensação de não ter falado de sua principal obra - comentou brevemente sobre sua necessidade de escrever “sobre o fato mais importante de sua vida, que foi ter um filho com Síndrome de Down”, afirmou.

A experiência de acompanhar duas palestras seguidas sobre assuntos diferentes, com escritores diferentes, me mostrou ser verdadeira a tese que quase todo professor de jornalismo nos ensina: talvez, a pergunta que parece ser a mais óbvia, se torna a mais reveladora. Com as crianças, surgiram perguntas simples, por vezes óbvias, que se mostraram interessantes; os adultos, fugindo do grande-tema, tentaram relacionar o Tezza a personagens de outros livros (embora sejam evidentes e, de certa forma, comprovadas as semelhanças com o pai de “O filho eterno”), além de criarem perguntas relacionadas à sua profissão de professor universitário.

Para finalizar, preparei um pequeno áudio de 3min50seg com a história divertida de Leminski e Tezza sobre o posfácio de “Trapo”. Divirtam-se e até a próxima.

Momento tiete: pegando autógrafo do autor.

sábado, 11 de julho de 2009

Entrevista - Cristovão Tezza

Cristovão Tezza tem sido freqüentemente convidado para diversos eventos sobre literatura. O escritor catarinense ganhou notoriedade ano passado por seu livro “O filho eterno”, vencedor de cinco prêmios: Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Portugal-Telecom, Jabuti, Bravo! e São Paulo de Literatura.

Recentemente o autor esteve presente na 9ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto e, antes de encontrá-lo na palestra, realizei por email uma interessante entrevista com Tezza, que se mostrou bastante simpático e disponível.


Foto: Divulgação


Quando e por que o senhor começou a escrever?
Cristovão Tezza: Comecei a escrever nos meus 13, 14 anos - não sei exatamente por quê. Essa é uma pergunta muito difícil para um escritor. Escrever é uma espécie de resposta ao mundo - mas nisso cabe um pouco de tudo.

Quais são suas principais referências na literatura?
CT: As referências foram se fazendo ao longo da vida. No Brasil, Machado, Graciliano e Drummond; lá fora, Dostoiévski, Conrad, Camus, Coetzee. Para ficar em algumas poucas (mas fortes) referências.

Por que o senhor resolveu escrever "O filho eterno"?
CT: Não queria passar a minha vida sem escrever sobre o fato mais impactante da minha vida: o nascimento de um filho especial. De uns anos para cá, comecei a sentir a urgência de enfrentar esse tema terrivelmente difícil.

Antes de "O filho eterno" o senhor já havia escrito outros livros também premiados. Por que o senhor acha que somente com "O filho eterno" ganhou tamanha notoriedade?
CT: A notoriedade é um processo cumulativo, digamos assim. Eu já era bastante conhecido nos meios literários. O sucesso do último livro encontrou o caminho já pavimentado para aparecer bastante.

O senhor acredita que a demora no reconhecimento da sua produção literária se deve ao fato de o senhor estar fora do eixo Rio-SP, como chega a sugerir o "pai" de "O filho eterno"?
CT: Num certo momento, sim. Ao longo dos anos 80 e 90 estar fora do eixo conspirava contra qualquer escritor. Mas a era da internet mudou radicalmente essa “maldição”.

A escolha em fazer uso de um narrador em terceira pessoa fez parte de uma estratégia para criar distanciamento daquela narrativa, como chegaram a sugerir alguns críticos?
CT: Sim. O narrador em terceira pessoa foi a chave para eu conseguir enfrentar o tema. Continuei próximo de mim mesmo, mas visto de longe, o que muda tudo.

"Condenável no cotidiano, a crueldade pode ser uma virtude literária. Ela é a grande qualidade de 'O filho eterno'". Jerônimo Teixeira, da Veja. Este excerto está na contracapa do livro. O senhor acha que o que está em jogo na relação entre o pai e o filho da história é a crueldade? Como o senhor a definiria?
CT: Toda relação humana tem uma dose de violência, crueldade, incompreensão e impossibilidade. Em torno dessa aura gira a boa literatura - tentar decifrar a difícil convivência entre os homens. No caso de “O filho eterno”, a crueldade é apenas um dos aspectos, em alguns momentos, mas um aspecto bastante intenso. Mas eu não definiria o livro por esse viés.

Como seus parentes e as pessoas próximas ao senhor encararam o livro?
CT: Todo mundo gostou muito. Eu só o escrevi porque o meu filho não tem a abstração da leitura (o que é outro eixo do livro). Claro que se ele lesse, tivesse linguagem sofisticada o suficiente para compreender as implicações da narrativa, eu seria outra pessoa e o livro seria outro, completamente diferente.

Num próximo post, eu conto sobre a feira, publico fotos do evento e trago um “extra” pra complementar a matéria.